segunda-feira, 6 de julho de 2009

O Ensino que Cresce e faz Crescer

Transcrevo uma matéria do Jornal Página 20 do início desse ano, que traduz o diferencial qualitativo da educação profissionalizante no Acre, desenvolvida pelo Instituto Dom Moacyr.

Caderno ESPECIAL O ensino que cresce e faz crescer

Sistema de educação técnica evolui como núcleo de talentos e de formação empreendedora
Comunidades Indígenas se capacitam em Cooperativismo!
Mediadores do CEFLORA

Esse mediador, aprendiz de blogueiro com um grupo de educand@s

Educandos do CEFLORA

Educanda Rosângela do curso Técnico em Gestão de Negócios

Sistema de educação técnica evolui como núcleo de talentos e de formação empreendedora.

O sistema de educação profissionalizante do Acre é mais que um mero capacitador de pessoas, mas um laboratório e um centro de difusão de talentos das mais diversas áreas do conhecimento. Os números do Educacenso, a pesquisa de matrículas realizada anualmente pelo Ministério da Educação, refletem de modo cristalino o quanto a educação profissional vem se fortalecendo: em 2008, o crescimento das matrículas nas várias modalidades desse ensino foi de 107%, a maior do país. O Acre saltou de 859 matrículas em 2007 para 1.784 novas inscrições em 2008.

A oferta de cursos é vasta e o Instituto Dom Moacyr, responsável pela educação profissional, mantém a trajetória de crescimento. Uma das principais novidades para 2009, por exemplo, é a inclusão de 23 escolas da rede pública no ensino profissional. Os alunos estudam o ensino médio e ainda obtêm especialização técnica em determinada área.

O Instituto Dom Moacyr está implantando 13 núcleos de educação à distância na capital e municípios. O objetivo é atender 25 mil alunos até 2010. Atualmente, 8.086 estudantes cursam o ensino profissional. Em 2007 eram 3.934.

A estrutura do Dom Moacyr é composta pela Escola Técnica em Saúde Maria Moreira Rocha, Escola da Floresta e Escola de Comunicação Campos Pereira, além do Ceflora, em Cruzeiro do Sul. Três novas unidades estão sendo construídas em Plácido de Castro, Brasiléia e Feijó. Os investimentos são resultado da parceria entre o governo federal e o governo do Acre.

É no empreendedorismo que se pode observar a melhor expressão do conceito gerado nos últimos anos pelo Instituto Dom Moacyr, a autarquia responsável pela gerência da educação técnica. Casos como de Rosângela Alves e Abel Mendes, ambos pequenos comerciantes em Rio Branco que há quatro meses frequentam o curso técnico de Gestão de Negócios no Centro de Educação Profissionalizante (CEP) Campos Pereira, no bairro José Augusto, são emblemáticos no aperfeiçoamento da força empreendedora.

Rosângela (Rô, como se apresenta ao indicar quem o potencial cliente deve procurar em seu estabelecimento) mantém uma loja de CDs, Bíblias e outros produtos evangélicos no Supermercado Araújo da Via Chico Mendes. Não fosse o curso de Gestão de Negócios, o planejamento e a definição de metas seriam ainda problemas para ela, que descobriu, no andamento das aulas, o valor das parcerias. “Tive vários parceiros para iniciar meu negócio. O dono do Araújo me deu dois meses de aluguel, meu ex-patrão me ajudou mas só fui saber o quanto valem essas parcerias fazendo o curso”, relata a aluna comerciante.

O Gestão de Negócios vem abrindo as portas do planejamento para execução de metas. “Tem de ser no curto e médio prazos, porque no longo, o risco é muito maior”, disse Abel Mendes, dono da Papelaria Popular, nas proximidades do Mercado da Sobral. Os alunos conseguem, por exemplo, elaborar planilhas muito mais eficientes que o simples - porém, velho e bom - caderninho de anotações.

Além de colegas no Centro, os dois têm em comum a valorização da capacitação profissional. “As pessoas têm de se capacitar. Senão, ficam para trás”, dizem os futuros gestores. Atualmente cada um gera pelo menos dois empregos em suas lojas, além de manter a si mesmos.

Ceflora indo cada vez mais longe
A educação profissionalizante vai cada vez mais longe para atender o maior número de acreanos. Em 2009, por exemplo, o Ceflora, de Cruzeiro do Sul, irá receber um barco equipado com notebooks e demais equipamentos para ministrar cursos às comunidades que vivem ao longo do Rio Juruá e seus afluentes.

Descendente direta dos índios kontanawa, Moísa Nogueira da Costa aprendeu informática no Centro de Formação e Tecnologias da Floresta (Ceflora), em Cruzeiro do Sul, e sonha em voltar à aldeia Sete Estrelas, no Rio Tejo, onda moram seus pais, avós e demais familiares. Ali, pretende participar do projeto que vem levando o ensino profissional às comunidades indígenas e ribeirinhas. “Quero muito poder levar um pouco de meus conhecimentos para minha comunidade”, disse ela, que já foi professora do ensino regular em Sete Estrelas.

Além de tudo, o Ceflora está comprando um barco-escola para facilitar o trabalho dos mediadores e alunos nas comunidades mais remotas do Juruá.

O projeto de criação do Ceflora foi construído pela sociedade civil do Vale do Juruá a partir do seminário “A Universidade do Século 21 na Floresta do Alto Juruá”, evento que foi articulado pelo deputado federal Henrique Afonso e contou com a participação de mais de 85 organizações governamentais e não-governamentais dos municípios da região, de instituições de ensino e pesquisa de todo o Estado do Acre, de outros Estados do Brasil e também do exterior.

A partir das propostas desse evento foi construída a plataforma do projeto “Universidade da Floresta”, que, com o apoio da então ministra Marina Silva, foi implementado como política pública pelo governo federal, por meio da portaria interministerial 132, de maio de 2005. Essa portaria criou o Grupo de Trabalho Interministerial “Universidade da Floresta”, coordenado pelos Ministérios do Meio Ambiente (MMA), da Ciência e Tecnologia (MCT) e da Educação (MEC) e constituído por representantes dos mais diversos segmentos sociais.

O projeto Universidade da Floresta resultou na expansão do campus da Universidade Federal do Acre (Ufac) em Cruzeiro do Sul e na implantação, pelo governo do Estado, de um centro de referência em educação profissional, ambos referenciados pelas diretrizes maiores da valorização do conhecimento tradicional e da biodiversidade regional.

O Ceflora iniciou suas atividades no dia 15 de novembro de 2005. Em 2007, foram desenvolvidos cursos em novas áreas e mantida a oferta nas áreas profissionais já existentes. Nesse período foram realizadas as primeiras turmas dos cursos de Adubação Verde, Horticultura Orgânica, Montagem e Manutenção de Computadores, Fabricação de Farinha Carimã, Madeira e Móveis e Comercialização de Artesanato Indígena.

No total, foram formadas 969 pessoas no ano de 2007, com uma abrangência geográfica significativamente maior, incluindo também 19 comunidades do Parque Nacional da Serra do Divisor e comunidades indígenas.

Transcorridos mais de três anos de sua inauguração, o Ceflora já formou 335 turmas e ofertou 5.610 vagas à comunidade na região do Juruá/ Tarauacá/Envira nas mais diversas áreas profissionais. Neste ano de 2009 entra em funcionamento a nova sede do Ceflora com uma área construída de aproximadamente 1.700 metros quadrados. “Os investimentos do governo do Estado são muito consideráveis e chegam a R$ 1.219.084,06 no novo Ceflora”, disse Raimundo Evilásio, coordenador da unidade em Cruzeiro do Sul. Para aquisição de móveis e equipamentos, o Estado está aplicando cerca de R$ 250 mil.

“Nunca vi nada igual”
Ela é um exemplo do trabalho dos mediadores do Instituto Dom Moacyr espalhados pelo Acre. Belit Lemos tem apenas 20 anos de idade e mora há oito meses em Cruzeiro do Sul. O marido, militar do Exército, foi transferido de Humaitá (AM) para o Acre e ela, especializada em informática, tomou conhecimento do projeto do Ceflora e acabou sendo contratada como mediadora do curso aplicado a soldados do 61º Batalhão de Infantaria de Selva. Belit se formou em Manaus mas diz não ter visto nenhuma organização ou instituição, governamental ou privada, envolver-se de modo tão contundente na formação técnica das pessoas quanto o Instituto Dom Moacyr. “Manaus é uma cidade muito avançada, mas lá não se vê esse trabalho. Nunca vi nada igual”, afirmou.

Um de seus alunos é o soldado João Cláudio, cujo objetivo é aprofundar os conhecimentos no sistema operacional Linux. “Fiz o curso básico e agora quero aprofundar-me em Linux”, disse, avaliando como boa a qualidade do curso oferecido.

Reportagem: Edmilson Ferreira - Fotos de Gleilson Miranda.

domingo, 5 de julho de 2009

A Leitura do mundo precede a leitura da palavra


Paulo Freire, Educador brasileiro, afirma que a leitura do mundo precede a leitura da palavra. Antes de ler a palavra, a pessoa lê o mundo através de gestos, olhares, expressões faciais, do cheiro, do tato, do olfato.

Como qualquer leitura é uma produção de sentido, as crianças e adultos procuram criar sentidos para o mundo que os rodeiam.

Através desta "leitura do mundo", principalmente as crianças, começam a perceber as relações espaciais existentes, as relações de afeto, observam que cada coisa ocupa um lugar e tem um nome, manifestam preferência e rejeições...

É no contato com "outro", e com o "mundo" que a criança constrói símbolos, inicialmente muito singulares e próprios até chegarem a se construir em significados compartilhados socialmente. Não é diferente quando se tornam pessoas adultas.

Neste sentido, antes de ler a palavra, a pessoa já vivenciou diversas leituras do mundo.